Monday, 30 May 2011

Uma lembrança de 2009...


Hoje foi só mais um dia de inverno. Da varanda vê-se a chuva a cair no mar. O som das gotas a caírem na água invade o meu quarto e enche-o com uma nostalgia verdadeiramente contagiante.
Sinto-me como se fosse capaz de viajar no tempo, até à mais longínqua memória dos meus tempos de menina. Tempos esses que vivia feliz, sem preocupações, sem medos, com sonhos e muita esperança.
Ainda me lembro das tardes que passava a brincar no quintal de casa dos meus avós, da alegria com que vivia cada dia, com que acordava cada manhã e passava o dia a sorrir, a cantar, a brincar, sem pensar no “amanhã”. Lembro-me de como a liberdade tinha um gosto tão diferente tendo um contraste inigualável ao de hoje.
Agora que cresci, a liberdade não é só liberdade. A liberdade traz escolhas e essas mesmas escolhas trazem consequências. O medo constante de magoar, ser magoada ou errar é sistemático, como um ciclo vicioso.
Agora que cresci, os sonhos ficaram no passado, nos meus tempos de menina. A vida não permite que os sonhos ainda sejam realidade, nem mesmo na nossa cabeça, na minha cabeça. A capacidade de percepção e diferenciação do que é real e abstracto está impregnado na maneira como nos criam, como nos moldam nos limites impostos pela sociedade que nos envolve e estipula circuitos de raciocínios loucos.
Eu, eu cresci por mim. Criei os meus próprios caminhos, as minhas próprias visões do que é o mundo onde vivo e o meu mundo. O som das gotas da água arrepia-me. Lembra-me de amores e desamores, de lágrimas e sorrisos, de abraços e carinhos, que ao longo destes anos fui guardando dentro de mim, na minha caixinha de recordações, no meu coração.
O coração que sempre viveu de sonhos, de amor, de amizade e que tanto foi magoado, pisado e mal-tratado. Foi aqui, nesta casa perto do mar que me criei. Que me fiz mulher. Foi aqui que escrevi o meu destino e desde então o tenho feito o único objectivo da minha realidade. Da realidade onde vivo, embora não sendo a que deseje.
Foi nesta casa, em muitas noites como esta, em que, deitada na cama oiço o som do mar, da chuva, da violência do vento, da revolta do meu ser. Revolta por não poder voltar atrás, não poder mudar o passado, não poder emendar erros e não poder viver o que não vivi.
Hoje, poucos são os meus desejos, os meus objectivos. Poucos são os sonhos e a vontade de torná-los realidade, a minha realidade. Poucas são as manhãs que acordo com o primeiro raio de sol a iluminar tudo a minha volta, a dar-me força e luz para continuar um dia mais.
Nesta casa, neste meu refúgio, neste meu canto, só eu consigo sentir a nostalgia de viver agarrada a sonhos por concretizar, a remoer objectivos por alcançar, e o mais doloroso, a nostalgia de viver sem sonhos nem esperança. Viver no conformismo que toda a vida reneguei.
Antes de adormecer, ainda conto com o som da chuva a cair no mar como banda sonora. Ainda antes de adormecer irei desejar novamente, irei desejar poder voltar aos meus tempos de menina. Tempos esses que vivia feliz, sem preocupações, sem medos, com sonhos e muita esperança.
Sem medo de falhar, sem medo de magoar, sem medo de arriscar e principalmente, sem medo de ser feliz.

Suspiro

Respira fundo... Pára no tempo... Olha a tua volta e pensa se é isto que queres. Se estás preparada. Concentra-te e segue o teu caminho. Não voltes nem olhes para trás. Força.


Keep going, keep dreaming.

Monday, 23 May 2011

O “Gótico” como subcultura.

Um texto adaptado dum antigo que já tinha escrito há uns anos atrás... Para um trabalho da faculdade de um amigo... Enjoy!


O “Gótico” como subcultura.

                Gótico diz-se da arte que se espalhou na Europa do século XII à Renascença.
No dia-a-dia da sociedade actual o “gótico” possui um significado distinto. Gótico diz-se então pessoas que se vestem de preto e ouvem música alternativa (metal).  Errado!
Cada povo possui tradições, costumes e hábitos. À esses mesmos hábitos chamam-lhe cultura. Desde sempre a sociedade fez questão de rotular e dividir as massas populacionais em diferentes grupos. Diferentes subculturas.
O gótico actual, ao contrário da opinião comum, não se trata de uma quantidade de “miúdos estranhos” que ouvem música pesada e se vestem de preto. O Gótico como subcultura surgiu entre os anos 60 e 80 em Inglaterra porém apenas há cerca de 10 anos tem sido abordada através dos meios de comunicação social e tecnologias da informação ainda que por vezes de maneira errada.
                Como se é de esperar, quando algo é novo gera curiosidade. Perguntas que giram em torno de tudo que é estranho. É uma reacção natural do ser humano frente a factos desconhecidos. E esta subcultura não foi excepção quando começou a dar os seus primeiros passos na geração dos anos 90’s, a geração adolescente dos dias de hoje. Surgiu então a questão: “o que é ser gótico?”.
                Ser gótico não é respeitar um estereótipo apenas porque sim. É encontrar dentro de cada qual a sua imagem. A sua essência. É ser apenas o próximo.
                Não se trata apenas do rótulo mas sim do que esse rótulo representa. No senso comum actual ser gótico (ou apenas diferente) já torna a pessoa em questão alvo de crítica e atenção, ainda que pelos motivos errados. Esta subcultura não está estritamente ligado à morte, à depressão e à dor como muitos pensam.
O gótico representa sobretudo a arte em todas as suas formas. Arquitectura, literatura e até na música (Bauhaus, Fields Of The Nephilim, Siousxie And The Banshees, Christian Death, Screams For Tina, The Escape, The Sisters of Mercy, Alien Sex Fiend, Corpus Delicti, etc)! Está ligado à morte tanto quando à vida. É uma mistura de ligação ao passado.
O estilo em si, apesar de associado às botas plataformas, roupas pretas e muito simbolismo, não se define pelo exterior. O visual é secundário e muitas vezes condicionado pela sociedade. No entanto, apesar de toda a informação disponível hoje em dia, ainda há quem enquadre pessoas nesta subcultura somente pela forma de vestir, rotulando tudo e todos como um mesmo “produto”. Errado! Qualquer um pode vestir-se de preto, qualquer um pode se identificar com determinados pensamentos e ideologias, mas nem todos o compreendem por completo. O ser-se gótico está para além das roupas. Está no conhecimento, na arte, na descoberta (tanto do mundo como de si mesmo). Está para além do entendimento.
A definição deste gótico, a subcultura, no fim está entregue a cada um. O mundo é igual mas todos o vemos com olhos diferentes. O que é estranho e sombrio para uns, é ao mesmo tempo arte e paixão para outros. Tudo gira em torno da percepção do individuo, de como vê e reage a determinadas situações e factos.
Hoje há quem afirme que os verdadeiros “góticos” ficaram no tempo em que começaram, nos anos 80. Diz-se que as gerações recentes apenas utilizam o rótulo, o exterior. Mas acredito que continua vivo ainda em muitos o amor pela história, arte e música. A paixão que fez que com se desse o nome à subcultura. A paixão que a trouxa até aos nossos dias.
Mas afinal, o que é o gótico?
É algo a que apenas depois do contacto com pessoas que integram a subcultura, depois de apreciar a música e depois de fechar os olhos para reflectir no impacto que essa experiencia teve em si e como o fez olhar o mundo a sua volta, a realidade alternativa, o mundo cultural alternativo, pode responder. Porque a verdadeira definição está nos corações de quem vive nessa realidade, nessa subcultura, nesse mundo alternativo.
Cada caso é um caso e cada um, é como qual.

Por Sara Araújo.